quarta-feira, 20 de julho de 2011

Projeto Ciranda Musica e Cidadania Cuiaba-MT

Às vezes eu paro, olho à minha volta e não acredito. Lembro do ponto de partida do Projeto Ciranda: primeiro no papel e depois o primeiro espaço físico, com aquela mesinha emprestada, sozinha no canto da sala quente, em pleno calor de Cuiabá, apenas com um ventilador para aliviar as conseqüências do teto de zinco. Pouco tempo depois mudamos para um amplo terreno, com uma boa casa, construímos um estúdio de gravação de última geração, palco para apresentações artísticas e biblioteca para centenas de pessoas que freqüentam semanalmente o Projeto. Que salto! Lembro da nossa saudosa coordenadora Regiane com cara de indagação: “Será que isso vai dar certo”? E deu. Parece incrível diante de tantos descaminhos, mas o Brasil está cheio de gente séria, trabalhadora, dedicada, que levanta cedo e luta por um país melhor. Uma grande equipe que age para que as coisas dêem certo. É a tal ‘sociedade civil organizada’. Quando conseguimos organizar forças e focar num objetivo comum, temos uma ‘arma’ poderosa nas mãos. Uma arma do bem, capaz de modificar verdadeiramente centenas, ou mesmo milhares de vidas.
Lembro também das primeiras pessoas a acreditarem no Projeto Ciranda e torcerem por ele. Minha mulher Lúcia em primeiro lugar, que ‘pensou’ o Projeto comigo nas longas caminhadas pelo Parque Mãe Bonifácia. Acabávamos de chegar da Holanda, onde residimos por alguns anos, e tínhamos muito tempo livre (hoje ... nem pensar). Meu pai Joacir, mestre e exemplo maior de vida, e longas conversas que se estendiam noite adentro, pensando sobre o Brasil e indignando-se diante de tanta barbárie. Minha mãe, distante, mas forte como uma rocha, que vive com coerência e integridade inabaláveis. Impossível não se espelhar nela. Do mestre Turíbio Santos, professor, amigo e ‘guru’ (como meu pai carinhosamente se refere a ele), pioneiro em tudo o que fez, apaixonado pelo Brasil e sempre otimista. Deu-me tantas oportunidades ... e mostrou sempre o caminho. O “Projeto Villa-Lobinhos” no Rio de Janeiro, criado por ele, foi e continua sendo um forte exemplo. Do meu tio Mauro Carvalho, me levando pelas mãos ao gabinete da Dra. Neide Mendonça, Secretária Adjunta de Trabalho, Emprego, Cidadania e Promoção Social, que desde o primeiro momento acreditou na idéia e foi fundamental para erigir a instituição, e de sua equipe, liderada pelo amigo Carlos Caetano, profissional altamente competente, hoje na Superintendência do Pomeri. E, através de Neide, conheci nossa ‘madrinha’, pessoa especial de grande sensibilidade e inteligência, que apostou, confiou e investiu. Num gesto simples, mas de enorme alcance social, a Secretária de Estado de Trabalho, Emprego, Cidadania e Promoção Social Terezinha Maggi contribuiu para a melhoria efetiva na vida de centenas de pessoas. Muitas nem sabem disso. Mas não importa. Sua nobreza está justamente no fato de fazer o bem ‘pelo bem’. Parece clichê, mas até hoje, sinceramente, vi pouquíssimas pessoas agirem desta maneira.
Lembro também da oportunidade de conhecer empresários sérios, comprometidos com o desenvolvimento de Mato Grosso, que também apostaram na idéia enquanto ela estava ainda no papel. Lembro do amigo Frederico Ribeiro, Diretor da Mutum Agropecuária, jovem dinâmico, inteligente e tão visionário quanto seu avô, “Seu” Ribeiro, fundador da cidade de Nova Mutum, no norte de Mato Grosso. De Carlos e Paulo Bôscolo, Diretores da Tauro Motors, concessionária Mitsubishi, que apostaram firme desde o início. De Altevir Magalhães, Diretor dos supermercados Modelo IGA, amante e profundo conhecedor de música, simples e complexo ao mesmo tempo, conhecedor da alma humana e de suas potencialidades. Do amigo Attilio Rondinelli, também do Modelo, que peregrinou comigo em busca de parceiros, ‘assinando em baixo’ da proposta e apostando no seu sucesso. Do amigo Adão Gomes, de Furnas, homem generoso, sempre disposto a ajudar o próximo e viabilizar projetos. Da querida Marilene Pimentel, que fez a diferença no início da caminhada, com gestos simples e cheios de carinho. De Jane Monteiro, e uma das primeiras a apostar nesta idéia. Foi fundamental para que outras empresas sentissem segurança em nossa iniciativa. De Rodrigo Caselli, importante parceiro no primeiro ano de vida do Projeto. De Paulo Ruhling, que ajudou muito a pensar a base jurídica e contábil da instituição, vendo sempre com entusiasmo o processo de ‘encarnação’ do Projeto. Do amigo Álvaro de Carvalho, profissional inspirado, de cepa especial, criador da nossa ‘marca’. E tantas outras pessoas importantes que fizeram, e fazem, parte de nossa história.
Enfim, começamos. Em 2004, as atividades ganharam ritmo, apesar de tímidas diante dos nossos sonhos. Ainda estávamos na extinta Prosol, no fundo do restaurante ‘Prato Popular’, com espaço limitado e poucas chances de crescer. A equipe ia se estruturando com vigor e novos parceiros colocavam suas ‘fichas’ no Projeto. Lembro, com orgulho de fazer parte do seu grupo de trabalho, do Secretário de Estado de Cultura de Mato Grosso João Carlos Vicente Ferreira, homem sério que alia sensibilidade com inteligência aguçada. Um visionário que trabalha com firmeza pela cultura de Mato Grosso, dando uma contribuição de dimensões tão grandes e profundas que precisaremos de alguns anos para absorver o ‘impacto’. João Carlos também se tornou um entusiasta do Projeto Ciranda, confiando à instituição importantes tarefas do seu plano de políticas públicas para a Cultura. A equipe de trabalho do Projeto Ciranda ‘ganhou’ profissionais de grande capacidade de trabalho que ‘vestiram’ a camisa. Nossa querida Regiane continua firme, agora em companhia da nossa ‘Comandante’, Dra. Lúcia Carames Sartorelli. Dupla imbatível, competentíssima, capaz de vencer obstáculos intransponíveis, sem perder o bom humor e o entusiasmo. O maestro Murilo Alves também mergulhou de corpo e alma no Projeto: de professor de clarinete e saxofone, passou a coordenar a parte pedagógica do Projeto, a dirigir a Orquestra de Sopros e hoje é, sem dúvida, um dos pilares de sustentação da instituição. A equipe administrativa, Elisângela Passos, Fábio Fragoso e Osmar Alves, aguerrida e comprometida com os ideais do Projeto, dedicam suas horas produtivas de trabalho (e no final das contas, as improdutivas também) à realização de nossas metas. E os professores dos mais diversos instrumentos que estão na ponta da ação, lidando diariamente com os alunos. São eles os grandes responsáveis pela grande e ‘silenciosa’ transformação de cada indivíduo. Cabe a nós garantir aos bolsistas que eles sejam os melhores (e sem dúvida são), e que tenham todas as condições para trabalharem com dignidade. Buscamos sempre valorizá-los ao máximo, oferecendo boa remuneração e estímulo profissional.
O trabalho chamou a atenção e alguns reconhecimentos começaram a surgir: este ano o Projeto Ciranda foi escolhido pela Fundação Getúlio Vargas e pela Rede Globo de Televisão como ‘modelo de gestão’ na área do voluntariado, merecendo matéria jornalística especial levada ao ar em março de 2006 em rede nacional pela própria TV Globo no programa “Ação”, apresentado por Serginho Groissman. Também fomos destaque no mais importante guia de negócios da música clássica no Brasil, o Anuário Viva Música! 2006, no texto da brilhante jornalista Adriana Pavlova sobre projetos sociais que utilizam a música como ‘ferramenta de cidadania’. Estamos, pela primeira vez, em meio aos mais importantes projetos sociais do Brasil, que outrora nos serviram de modelo e inspiração. Por fim, o Projeto Ciranda foi escolhido na mais importante, e por que não dizer rigorosa, seleção pública de projetos culturais no Brasil: edital 2005/2006 da Petrobrás. Mais uma vez, o Projeto Ciranda conseguiu trazer recursos financeiros para Mato Grosso através de nossa maior empresa, sendo um dos 3 projetos escolhidos no Estado, dentre mais de 4.500 projetos de todo o Brasil. Este projeto prevê a aquisição de instrumentos musicais para a Orquestra de Sopros do Projeto Ciranda.
Um projeto como o Ciranda se faz com um grande esforço coletivo. Todos são responsáveis pelo sucesso da iniciativa. Aqueles que foram citados e tantos (tantos mesmo!) que não foram, mas que são igualmente especiais e merecedores de todos elogios. Sinto que finalmente nos consolidamos. A vontade agora é continuar trabalhando por nossa gente. Investindo seriamente em educação e cultura e continuar dando nossa contribuição para a construção de uma nação mais justa. O esforço foi grande, mas valeu a pena. E continua valendo. Enquanto empresários, líderes políticos nos poderes executivos, legislativo e judiciário, e pessoas de bem nos confiarem esta nobre missão, estaremos aqui para trabalhar. Estamos prestes a completar três anos de vida. Que sejam os primeiros de muitos e que possamos continuar a ver crianças andando pelas ruas de Cuiabá com a ‘arpa’ nas costas num gesto claro de ‘querer crescer’ e isso nada mais é do que um direito básico de todo cidadão.
Leandro Carvalho
Presidente

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